6 de junho de 2009

Sobre ghost-writer -

Entrevista com Laura Bacellar -   Produtora editorial, escritora, criadora da Edições GLS -

Reprodução da Revista Editor

 

Editor – Como publisher você já se utilizou de um ghost writer na produção de algum livro?

Laura Bacellar – Já usei um ghost writer. Tem hora que o assunto é interessante, você sente que o autor faz boa figura, dá boas entrevistas, tem conteúdo, mas escreve muito mal. Aí é preciso chamar alguém para escrever ou dar uma melhorada profunda no texto.

E – Enquanto no mercado editorial americano a utilização deste profissional é bastante corrente e pública, no Brasil parece haver um certo pudor em divulgar sua existência. Você concorda com essa afirmação?

LB – Não sei se há pudor, mas creio que haja ignorância sobre o escritor profissional contratado. Em nossa cultura, existe a impressão de que qualquer pessoa inteligente é capaz de escrever bem, o que todo editor sabe que não é verdade. Talvez as editoras hesitem um pouco em explicar que determinada obra tenha sido escrita a quatro mãos para justamente não passar ao público a imagem de um autor (de idéias, informações, declarações) incapaz.

E – A utilização do ghost writer está diretamente ligado ao conceito de autoria. Em que tipos de obras a autoria não seria comprometida caso escrita por um fantasma?

LB – Toda obra não literária pode ser escrita por um “fantasma”, basta que seja competente o suficiente para captar o estilo – as idéias, a maneira de se expressar – de quem está assumindo responsabilidade pelas informações dadas e que tenha afinidade ou conhecimentos prévios sobre o assunto, para aprender todas as sutilezas que a pessoa está tentando passar. Uma biografia sobre um músico, por exemplo, a meu ver, só pode ser bem escrita por um ghost writer que, no mínimo, goste daquele tipo de música e tenha alguma lembrança dos sucessos da época a que o biografado se refere. De outra forma, torna-se uma obra tão fria que fica quase impossível ser um sucesso.

E – Você acredita que um leitor deixaria de comprar um livro se soubesse que o autor não o escreveu?

LB – Creio que em casos de livros técnicos ou biografias os leitores estão mais concentrados na informação do que na maneira como é passada, e, portanto, não se preocupam tanto com quem a escreveu. Evidentemente, a editora precisa fazer um certo marketing para garantir a veracidade ou a confiabilidade da obra. Se está publicando um apanhado de teorias do professor XYZ sobre alimentos transgênicos, claro que precisa dizer que o ghost trabalhou durante meses junto ao dito professor para publicar suas idéias.

E – A utilização do ghost writer é um dos indicadores de profissionalização do mercado?

LB – Com certeza. As editoras estão descobrindo, de maneira bastante dolorosa para seus bolsos, que uma idéia interessante ou mesmo sensacionalista apresentada de maneira confusa, repetitiva, ilógica, prolixa ou simplesmente amadora pode decretar a morte da obra nesses nossos dias de leitores apressados e impacientes. Um livro precisa ser muito melhor que a Internet para ser comprado, e isso, em geral, não se obtém se pessoas que nunca escreveram antes. Ao mesmo tempo, os editores não podem ficar esperando sentados que autores se apresentem com obras sugestivas. É preciso encontrar quem possa falar de assuntos potencialmente interessantes e oferecer-lhe a possibilidade de ditar sua obra, ou conceder entrevistas, ou reunir anotações, daí a necessidade de ghost writers.

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